Secretário Emanuel Silva mandou instaurar inquérito para apurar mortes
“Filho, ela volta, mas não agora”. A frase encerrou a entrevista que Regildo Lira Freire, de 33 anos, atualmente desempregado, deu ontem ao DIÁRIO, no bairro Nova República, em Santarém. Na quarta-feira, a mulher dele, Meicilane de Souza Freire, de 26 anos, grávida de trigêmeos, morreu no corredor do Hospital Municipal, sem atendimento médico, junto com dois bebês. Um dos bebês ainda permaneceu em observação, mas morreu 13 horas depois.
“Agora eu não sei o que vai acontecer comigo. Eu não sei viver sem ela e tenho que explicar pros meus filhos que a mãe deles não vem mais, pois toda noite eles perguntam por ela”, acrescenta Regildo, que tenta se recuperar do choque. Há dez anos ele estava casado com Meicilane, com quem teve outros dois filhos, atualmente com quatro e com seis anos. Regildo passa por tratamento da síndrome do pânico, que o obrigou a abandonar o trabalho de mototaxista. Ele fica mais revoltado quando lembra que foi correndo para o Hospital Municipal, logo após o enterro da esposa e dois bebês, pois tinha certeza que encontraria um dos trigêmeos. Mas, a tristeza lhe tomou por completo, quando chegou ao hospital, por volta da 18h, e encontrou o corpo do filho que havia morrido às 12h30. “Fui visitar o filho, mas ele já estava morto”, diz, inconsolável, acrescentando que foi muito traumático pra ele ter que desenterrar o corpo da esposa com os dois bebês para colocar o corpo do outro filho. “Tive que enterrar minha esposa duas vezes”.
Na próxima terça, o viúvo, a mãe de Meicilane e a cunhada têm audiência marcada com o secretário de Saúde do município, o médico Emanuel Silva. Mas, antes, eles garantem que irão procurar a Polícia e o Ministério Público para pedir a instauração de procedimento investigativo para punir os culpados. Entre eles, conforme os familiares, o Hospital Municipal e a médica Taís Mesquita, que teria liberado a paciente, mesmo diante do risco que ela corria.
Ontem à noite, em entrevista à imprensa, o secretário Emanuel Silva disse que a direção do Hospital Municipal instaurou processo administrativo para apurar a falta de atendimento que teria resultado na morte da paciente.
O CASO: A trabalhadora autônoma Meicilane de Souza Freire fez seus exames de pré-natal na Casa da Mulher, anexa ao Hospital Municipal de Santarém. Sua última consulta foi com a médica Taís Mesquita, que vinha acompanhando a gravidez, por volta das 15h da última quarta-feira, dia 11. Ela foi logo cedo ao hospital, pois não estava se sentindo bem. Na ocasião, passou por ultrassonografia, quando foi constatado que ela daria à luz um casal de gêmeos. Depois da consulta, a médica liberou a paciente, mesmo estando com a pressão elevada (14 por 10, conforme o registro), encaminhando-a para o Hospital Regional do Baixo Amazonas para onde ela deveria ir na manhã seguinte. “Depois que chegou do hospital, ela ficou em casa passando mal, até que às 22h ela pediu pra ser levada para o hospital”, conta a cunhada da grávida, Raimunda Célia.
O marido Regildo conta que, chegando ao hospital, buscou maca para tirar a mulher do carro, mas não encontrou. Então, pediu para que outros homens ajudassem a carregar a esposa que se debatia. Como não havia leito, eles tiveram que colocar a paciente no chão do corredor do hospital e só depois foi conseguido um colchonete. “Quando o médico chegou, já estava morta”, disse Raimunda Célia.
A direção do Hospital Municipal informou, por meio de nota, que o estado da criança sobrevivente era grave e que todos os procedimentos possíveis foram realizados para salvá-la. “Essa criança já havia sido ressuscitada, foi entubada. Foram dados hidratação, drogas e suporte respiratório. Mas o estado dela era gravíssimo e ela veio a falecer no fim da manhã de ontem, sexta-feira”, explica o diretor do HMS, Fábio Tozzi.
TRAGÉDIA: Por telefone, a médica Taís Mesquita explicou que ao liberar a paciente na tarde de quarta-feira, deu encaminhamento para que ela fosse atendida no Hospital Regional às 7h30 da manhã seguinte. Disse que diante da situação de risco da grávida, ficou preocupada, porque o Hospital Municipal estava sem vaga. “Na tentativa de ajudar, encaminhei para o serviço do Hospital Regional, justamente para continuar o procedimento, por falta de vagas no Hospital Municipal”, disse, acrescentando que durante o pré-natal Meicilane não apresentava sinais de eclampse, causa da morte dela.
A médica considerou as mortes uma tragédia e negou que tenha sido responsável por outros casos de morte de parturiente e bebês em Santarém. Disse, no entanto, ser a segunda paciente que ela perde por complicações semelhantes na hora do parto.
Fonte: Diário do Pará
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