Presidente da Frente Pró-Tapajós, o deputado federal Joaquim de Lira Maia, 59 anos, é um veterano do movimento separatista. “Dede que nasci”, diz a ser indagado sobre quando começou a defender a criação de outra unidade federativa no oeste do Pará.
Oficialmente, ele atua no movimento separatista desde 1995, quando assumiu o primeiro mandato como deputado estadual. Lira Maia ocupa pela segunda vez uma cadeira na Câmara Federal e já foi secretário de Estado de Agricultura e prefeito de Santarém - cidade que será capital do Tapajós, caso a divisão seja aprovada.
Maia diz que apenas quem é contra o Pará deveria votar não. “Essa é uma ideia fantástica para desenvolver nossa região. Todos deveriam ser a favor”. Confira entrevista dada ao DIÁRIO:
P: Que vantagens o senhor vê para a região do Tapajós com a divisão?
R: De imediato, a vantagem é que mais que se duplicará o Fundo de Participação dos Estados.
P: Essa conta feita pela campanha do sim tem sido contestada...
R: Tem sido criticada, mas essa conta é verdadeira até dezembro de 2012, enquanto não se faz uma revisão dentro do Congresso. Se ficar pior do que está hoje, o Pará sem divisão ficará ainda pior. E com três unidades ficará bem melhor. Então, imagine, se o FPE mudar para pior: é muito melhor ter três Estados, que terão três cotas, do que só um.
P: O senhor acha que só o aumento do FPE já justifica dividir o Estado?
R: Não, veja bem... Não queremos dividir o Estado. Queremos criar novas unidades, diminuir as áreas, encurtar distâncias, colocar governos mais próximos, investir em mais assistência à população. Com certeza, o reflexo disso é a melhoria da qualidade de vida da população. Então, não é um simples FPE. Vamos falar do “Bico do Papagaio” [refere-se à região no Estado do Tocantins], onde havia o maior índice de violência. Era um barril de pólvora há vinte anos. Há mais de 15 anos não se fala mais em “Bico do Papagaio”. É porque colocaram o governo perto, criaram um novo estado, dividiram os problemas e houve melhoria da qualidade de vida da população.
P: Não há alternativa para desenvolver a região que não a criação de um novo estado?
R: Há 40 anos o PIB [Produto Interno Bruto] do Tapajós é o mesmo. Desde a época do Magalhães Barata é o mesmo PIB. No balanço do Estado do ano passado, dos quase R$ 12 bilhões arrecadados, se gastou menos de 5% em todo o Tapajós. Foram R$ 502 milhões, sendo R$ 433 milhões de gastos com a máquina pública e só R$ 69 milhões foram investimentos. E olha que ano passado foi ano eleitoral. Os governos do Pará, e não estou falando apenas do atual, não têm recursos suficientes pra cuidar desse Estado como um todo. Quase 83% do dinheiro do Pará, do ano passado, foi gasto aqui [na Região Metropolitana de Belém]. Esse tratamento desigual não é porque esses governadores não gostam do Tapajós, não gostam de Carajás. A pressão é grande, o povo é muito, o Estado é grande e o recurso é pouco.
P: Toda fundamentação da divisão parece estar na redistribuição do FPE...
R: Não. Está na redistribuição do FPE e de outros adendos. Na hora que se injeta mais recursos nas grandes riquezas, no grande potencial que nós temos em Tapajós e Carajás, há tendência de gerar novos recursos. Não tenho dúvida do potencial adormecido que a região tem. Sem um choque econômico, dificilmente se gerará riqueza.
P: E os gastos com as novas estruturas administrativas?
R: Os gastos que vão aumentar são infinitamente menores que os benefícios. Pelos nossos cálculos, podemos chegar a uma receita de quase R$ 6 bilhões. São quase 12 vezes mais [refere-se aos gastos do Estado no Tapajós em 2010]. Imagina sua família receber um salário mínimo e passar a receber dez? Logicamente que vai melhorar a qualidade de vida dessa família.
P: Um dos discursos dos emancipacionistas é sobre o abandono, mas ao longo da história eles foram, em quase todos os momentos, aliados dos governos de plantão. Por que não se lutou para levar recursos para essas regiões?
R: Essa batalha é histórica. Na realidade, não estamos discutindo aqui governo. Os problemas é que são muitos. O Estado é grande e o recurso é pouco.
P: O discurso do abandono tem fundamento?
R: Esse discurso é mais em função do tamanho dos problemas do que do tamanho do Estado e do tamanho dos recursos, que são poucos. O Pará tem hoje 5,3 mil quilômetros de estradas estaduais asfaltadas. Só 127 quilômetros no Tapajós. No Tocantins são quase sete mil quilômetros. Quando ele foi criado tinha 200 quilômetros.
P: A criação do Estado do Tapajós é uma luta mais antiga e sempre teve até certa simpatia no Pará. Carajás já é uma luta mais recente e tem mais resistência. Foi uma boa estratégia juntar esses dois plebiscitos?
R: Nós não estamos discutindo região. Estamos discutindo uma estratégia de desenvolvimento do Pará. Naturalmente ia haver uma fusão, porque são dois grupos que defendem a ideia. Logicamente, a luta do Tapajós tem mais de 150 anos. É ainda do tempo do Brasil Império, quando se discutia a divisão territorial da província do Grão-Pará pra se construir o Estado do Amazonas. Naquele momento já foi sugerida a criação da província do Tapajós. É uma luta muito mais histórica, mas a ideia é a mesma [de Carajás]. A estratégia é a mesma, de choque de gestão.
P: Comenta-se que vocês se juntaram porque Carajás precisava da simpatia do Tapajós e o Tapajós precisava do dinheiro de Carajás...
R: Esse não foi o motivo da união. O motivo foi a ideia de ampliação da chance de melhoria da qualidade de vida do povo do Pará. Aliás, quem mais ganha nessa história é o Pará. Está provado. O novo Pará terá 85% do PIB industrial e mais de 85% das estradas asfaltadas. As universidades quase todas estão aqui.
P: O que o senhor diria aos cinco milhões de paraenses que vão ficar com apenas 17% do território? Por que eles deveriam votar no sim?
R: O Pará não vai ficar pequeno. Vai ficar do tamanho de São Paulo, a maior riqueza do país. Vai ficar com quatro vezes a área do Rio de Janeiro, a segunda maior riqueza do país.
P: O Pará vai perder Tucuruí, perder Carajás...
R: Pelo contrário, não perde. Tucuruí vai continuar em Tucuruí. Carajás vai continuar lá. O novo Pará vai ficar com a maioria da infraestrutura, a maioria do que já tem hoje em termos de riqueza, a maioria dos recursos do Estado. Quem tinha que ser contra a divisão era quem não morasse no Pará.
P: A maioria dos eleitores, 64%, está no Pará remanescente. Matematicamente, é quase impossível sair a divisão...
R: Não, eu não vejo por aí.
P: O senhor acha que tem chance?
R: Muita chance.
P: Qual é o cálculo que o senhor faz para ter essa esperança?
R: Matematicamente nós na região do Tapajós e Carajás vamos ter mais de 85% dos votos. No novo Pará, vamos ter mais de 30% dos votos. Se nós tivéssemos 25% já garantiria a vitória. E quem me garante que o sentimento do povo da zona bragantina, guajarina, salgado, Marajó é o mesmo sentimento do povo de Belém?
P: Se o sim passar não significa que os Estados serão criados. Vai ser enfrentada uma batalha no Congresso...
R: Esses projetos eram debatidos há 23 anos. Quando se fez a Constituição, por um voto não foi criado o Tapajós. Se o sim passar, vamos discutir uma lei complementar e eu tenho minhas dúvidas se os parlamentares brasileiros terão coragem de ir contra uma decisão do povo do Pará.
P: O que é que o senhor tem a dizer a quem afirma que essa divisão é só pra beneficiar meia dúzia de políticos que não conseguem se eleger governadores, senadores no Pará inteiro?
R: É meia dúzia de políticos também que está por trás do não. Essa é uma discussão superficial.
P: O separatismo é então um movimento de massa nas regiões de Carajás e Tapajós?
R: Com certeza absoluta e os resultados das urnas vão mostrar isso.
P: O que o senhor espera ocorrer no dia seguinte ao plebiscito, independente do resultado? Como curar essa ferida que vai ficar?
R: Nós temos que ter serenidade. Eu acredito muito no sucesso do sim e nós vamos precisar dos companheiros do Pará para nos ajudar na discussão desse processo em Brasília. O resultado que o povo der tem que ser respeitado pelos políticos. Nem há a necessidade de ouvir a Assembleia, porque ela seria ouvida se o plebiscito fosse feito apenas na área desmembrada. É o povo quem vai dizer. Temos que respeitar.
P: E se o não vencer?
R: No caso de Tapajós, ficará sepultado um sonho de mais de 150 anos.
P: A região poderá vir a ter novo tratamento se continuar atrelada ao Pará?
R: Não acredito na possibilidade do não vencer, mas se não vencer, vamos respeitar. Agora tenho certeza que vai ter uma reflexão muito forte, não só do povo, como do governo do Pará.
(Diário do Pará)
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